Vivemos tempos sem precedentes. Nunca pensaríamos em pleno século XXI, o século de toda a informação, investigação, conhecimento, o século da globalização - enfrentar um inimigo invisível, que, em poucas semanas, alcançou todo o mundo, fechou as fronteiras, provocou milhares de mortos e dezenas de milhares de infetados.
Mas o impacto do COVID-19 já se nota mais além da saúde. Prevê-se a perda de milhões de empregos em todo o globo resultantes da tão falada “quarentena” que o novo coronavírus impôs.
Equacione todos os cenários. Para cada um deles, faça um planeamento estratégico, com estratégias, recursos e respostas.
Quando falou ao país, no âmbito da implementação do “Estado de Emergência”, o Presidente da República de Portugal disse que “E, mesmo agora, só se salvam vidas e saúde se, entretanto, a economia não morrer. Por isso, o Estado está a ajudar a economia a aguentar estes longos meses mais agudos. Fazendo o que possa para proteger o emprego, as famílias e as empresas. Mas nós temos de fazer a nossa parte. Não parar a produção, não entrar em pânicos de fornecimentos como se o País fechasse, perceber que limitar contágio e tratar contagiados em casa é e tem de ser compatível com manter viva a nossa economia. Assim é em tempo de guerra, as economias não podem morrer.”
Então, o que fazer? Como devem os empresários, os líderes agir? Deixo-vos alguns princípios, (alguns dos quais retirados do livro de Bill George “Sete lições para liderar em tempo de crise”.)
1. É preciso encarar a realidade. Um tempo de crise não tem de ser necessariamente um tempo mau, pode ser um tempo de mudança - para melhor. A palavra grega krísis era usada pelos médicos antigos com um sentido particular. Quando o doente, depois de medicado, entrava em crise, era sinal de que haveria um desfecho: a cura ou a morte. Crise significa separação, decisão, definição. Crise significa, digo eu, separação do passado, decisão face ao futuro e definição de estratégias.
2. Não faça tudo sozinho. Ouça pessoas da sua confiança quanto ao que se pode fazer para melhorar, em determinada situação de incerteza, tensão ou adversidade.
3. Perceba qual a causa do problema. Não dê apenas uma resposta superficial, pense em soluções estruturais.
4. Pense a longo prazo. Se possível, antecipe alguns problemas. Equacione todos os cenários. Para cada um deles, faça um planeamento estratégico, com estratégias, recursos e respostas.
5. Aproveite para fazer mudanças. Quero deter-me neste ponto. No jornal online “O Minho”, no dia 18-03-2020, saiu uma notícia que dava conta que uma empresa têxtil de Barcelos muda a sua produção para equipamentos e máscaras e pede ajuda a outras empresas para fazerem o mesmo. Esta empresa dá trabalho a mais de 600 trabalhadores em todo o país. Se a administradora deste grupo insistisse em continuar a produzir os têxteis habituais, provavelmente teria reduzido a sua produção, ou talvez até fechado. Assim, com esta decisão corajosa, a empresa não só continuou a laborar como está a prestar uma preciosa ajuda aos meios hospitalares para se protegerem e lutarem contra o COVID-19. Uma das empresas deste grupo, anteriormente dedicada à nanotecnologia, suspendeu outras investigações e está dedicada a fabricar gel desinfetante. Mas há mais bons exemplos: diz o Jornal Económico no dia 20-03-2020, que, enquanto o grupo Louis Vuitton, se concentra na produção de álcool em gel, utilizando os seus recursos cosméticos e perfumarias, a Zara está a utilizar a sua função têxtil para a produção de máscaras e batas.
Com base nestes exemplos específicos deste tempo que vivemos, vejo aqui 3 lições a reter para futuras possíveis “crises”:
- A criatividade é sempre importante. No entanto, boas ideias podem surgir por 99% de transpiração e 1% de inspiração. Faça brain storming até encontrar uma (ou várias) soluções/alternativas.
- Tenha a capacidade de se adaptar aos contextos. Daqui para a frente, é possível que surjam outros contextos onde seja importante uma resposta rápida a necessidades novas que se levantam. Não tenha medo de mudar!
- Conheça os setores que estão a crescer. Na crise de 2008, ouvi uma frase que, podendo parecer fria e calculista, traduz um pouco a atitude que devemos ter perante uma crise: “na crise, uns choram, outros vendem lenços”. Vemos que esta situação mundial do COVID-19 trará muitos prejuízos ao nível do turismo, hotelaria, restauração, aviação, aeroportos, comércio tradicional, produção fabril. No entanto, há setores que estão a crescer neste tempo: o e-commerce, os meios de tecnologia que respondam ao teletrabalho, plataformas de formação online, etc. Este é um setor a explorar agora.
Tenha fé, agarre-se a ela, aos seus princípios e valores, e seja resiliente.
6. Encontre a sua direção. Encontre o seu foco para prosseguir, e não dê ouvidos ao desânimo. Tenha fé, agarre-se a ela, aos seus princípios e valores, e seja resiliente.
7. Concentre-se em vencer. Os próximos meses exigirão das empresas e de todos os cidadãos, uma força e uma coragem fora do comum. Seja qual for a sua área de atuação, a sua profissão, concentre-se em vencer. A sua família precisa de si, a sua comunidade precisa de si, a sua cidade, o seu país, precisam de si.
Em tempos de crise, mais do que nunca, são precisos líderes - alguém que mostre o caminho. Seja essa pessoa, seja resposta para as necessidades à sua volta, crie emprego, crie oportunidades, seja solidário, mas seja efetivo, determinado e firme com os seus objetivos.
Elsa Correia Pereira
Socióloga, Autora | Comitê de Referência Summit PortugalLiderar em Tempos de Crise
Publicado em 26 de Março de 2020Vivemos tempos sem precedentes. Nunca pensaríamos em pleno século XXI, o século de toda a informação, investigação, conhecimento, o século da globalização - enfrentar um inimigo invisível, que, em poucas semanas, alcançou todo o mundo, fechou as fronteiras, provocou milhares de mortos e dezenas de milhares de infetados.
Mas o impacto do COVID-19 já se nota mais além da saúde. Prevê-se a perda de milhões de empregos em todo o globo resultantes da tão falada “quarentena” que o novo coronavírus impôs.
Quando falou ao país, no âmbito da implementação do “Estado de Emergência”, o Presidente da República de Portugal disse que “E, mesmo agora, só se salvam vidas e saúde se, entretanto, a economia não morrer. Por isso, o Estado está a ajudar a economia a aguentar estes longos meses mais agudos. Fazendo o que possa para proteger o emprego, as famílias e as empresas. Mas nós temos de fazer a nossa parte. Não parar a produção, não entrar em pânicos de fornecimentos como se o País fechasse, perceber que limitar contágio e tratar contagiados em casa é e tem de ser compatível com manter viva a nossa economia. Assim é em tempo de guerra, as economias não podem morrer.”
Então, o que fazer? Como devem os empresários, os líderes agir? Deixo-vos alguns princípios, (alguns dos quais retirados do livro de Bill George “Sete lições para liderar em tempo de crise”.)
1. É preciso encarar a realidade. Um tempo de crise não tem de ser necessariamente um tempo mau, pode ser um tempo de mudança - para melhor. A palavra grega krísis era usada pelos médicos antigos com um sentido particular. Quando o doente, depois de medicado, entrava em crise, era sinal de que haveria um desfecho: a cura ou a morte. Crise significa separação, decisão, definição. Crise significa, digo eu, separação do passado, decisão face ao futuro e definição de estratégias.
2. Não faça tudo sozinho. Ouça pessoas da sua confiança quanto ao que se pode fazer para melhorar, em determinada situação de incerteza, tensão ou adversidade.
3. Perceba qual a causa do problema. Não dê apenas uma resposta superficial, pense em soluções estruturais.
4. Pense a longo prazo. Se possível, antecipe alguns problemas. Equacione todos os cenários. Para cada um deles, faça um planeamento estratégico, com estratégias, recursos e respostas.
5. Aproveite para fazer mudanças. Quero deter-me neste ponto. No jornal online “O Minho”, no dia 18-03-2020, saiu uma notícia que dava conta que uma empresa têxtil de Barcelos muda a sua produção para equipamentos e máscaras e pede ajuda a outras empresas para fazerem o mesmo. Esta empresa dá trabalho a mais de 600 trabalhadores em todo o país. Se a administradora deste grupo insistisse em continuar a produzir os têxteis habituais, provavelmente teria reduzido a sua produção, ou talvez até fechado. Assim, com esta decisão corajosa, a empresa não só continuou a laborar como está a prestar uma preciosa ajuda aos meios hospitalares para se protegerem e lutarem contra o COVID-19. Uma das empresas deste grupo, anteriormente dedicada à nanotecnologia, suspendeu outras investigações e está dedicada a fabricar gel desinfetante. Mas há mais bons exemplos: diz o Jornal Económico no dia 20-03-2020, que, enquanto o grupo Louis Vuitton, se concentra na produção de álcool em gel, utilizando os seus recursos cosméticos e perfumarias, a Zara está a utilizar a sua função têxtil para a produção de máscaras e batas.
Com base nestes exemplos específicos deste tempo que vivemos, vejo aqui 3 lições a reter para futuras possíveis “crises”:
- A criatividade é sempre importante. No entanto, boas ideias podem surgir por 99% de transpiração e 1% de inspiração. Faça brain storming até encontrar uma (ou várias) soluções/alternativas.
- Tenha a capacidade de se adaptar aos contextos. Daqui para a frente, é possível que surjam outros contextos onde seja importante uma resposta rápida a necessidades novas que se levantam. Não tenha medo de mudar!
- Conheça os setores que estão a crescer. Na crise de 2008, ouvi uma frase que, podendo parecer fria e calculista, traduz um pouco a atitude que devemos ter perante uma crise: “na crise, uns choram, outros vendem lenços”. Vemos que esta situação mundial do COVID-19 trará muitos prejuízos ao nível do turismo, hotelaria, restauração, aviação, aeroportos, comércio tradicional, produção fabril. No entanto, há setores que estão a crescer neste tempo: o e-commerce, os meios de tecnologia que respondam ao teletrabalho, plataformas de formação online, etc. Este é um setor a explorar agora.
6. Encontre a sua direção. Encontre o seu foco para prosseguir, e não dê ouvidos ao desânimo. Tenha fé, agarre-se a ela, aos seus princípios e valores, e seja resiliente.
7. Concentre-se em vencer. Os próximos meses exigirão das empresas e de todos os cidadãos, uma força e uma coragem fora do comum. Seja qual for a sua área de atuação, a sua profissão, concentre-se em vencer. A sua família precisa de si, a sua comunidade precisa de si, a sua cidade, o seu país, precisam de si.
Em tempos de crise, mais do que nunca, são precisos líderes - alguém que mostre o caminho. Seja essa pessoa, seja resposta para as necessidades à sua volta, crie emprego, crie oportunidades, seja solidário, mas seja efetivo, determinado e firme com os seus objetivos.
Sobre a Autora
Elsa Correia Pereira
Socióloga, AutoraComitê de Referência Summit Portugal
Elsa Correia Pereira nasceu em Canha, concelho do Montijo. Licenciada em Sociologia e Planeamento pelo ISCTE, sempre esteve ligada à área social através do voluntariado e profissionalmente desde 2003. Fez formação teológica e frequentou a pós graduação em Relação de Ajuda e Intervenção Terapêutica (UAL). Apreciadora do Associativismo, é parte dos órgãos sociais de algumas Associações sem Fins Lucrativos. É comunicadora na área das causas sociais e direitos humanos. Colabora como escritora em publicações de inspiração cristã. É autora do livro "Diário de uma Mulher Feliz". É casada e tem 2 filhos.